AQUI
Aqui, deposta enfim a minha imagem,
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu - eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não por aquilo que só atravessei,
Não 'lo meu amor que só perdi,
Não p'los incertos actos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor me eternizei.
Sophia de Mello Breyner, Dia do Dar, Caminho, 6ª edição, 2009, p.68