domingo, 24 de novembro de 2013

O Ruído vário da rua


O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.


 ou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade

É só eu ter que morrer.

 
Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada

Ao meu conceito perdido

Como uma flor na estrada.

 

Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.

É um cego e a guitarra

Que estão a chorar.

 

 Ambos fazem pena,
 São uma coisa só

Que anda pelo mundo

A fazer ter dó.


Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.


(Fernando Pessoa - poemas Inéditos)
Poema retirado da página dos Voluntários de Leitura no Facebook

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