Biografia
Nascido em lar humilde, na Rua do Cónego, perto da Sé, em Lisboa, foi o
primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana
cuja mãe era filha de uma mulata ou africana, e de Maria de Azevedo, lisboeta.
Cristóvão serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão
da Inquisição.
Mudou-se para o Brasil em 1614,
para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Bahia, mandando vir a família em
1618.
No Brasil
António Vieira
chegou à Bahia, onde em 1619 seu pai passou a trabalhar como escrivão no
Tribunal da Relação da Bahia, o que motivou a vinda de toda a família. Em 1614,
iniciou os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador, onde,
principiando com dificuldades, veio a tornar-se um brilhante aluno. Segundo o
próprio, foi a partir de um "estalo" na cabeça que, de súbito, tudo
clareou: passou a entender com facilidade e a guardar tudo o que lia na
memória. Até hoje muitos se referem a fenómeno semelhante a esse como "o
estalo de Vieira".
Ingressou na Companhia de Jesus
como noviço em maio de 1623.
Em 1624,
quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania,
onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de
castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus
estudos em Teologia, tendo estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo
o mestrado em Artes. Foi professor de Retórica em Olinda, ordenando-se
sacerdote em 1634. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões,
tendo fama de notável pregador.
Quando a
segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que
Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com
sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de
que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época.
Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas
(catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela
derrota de sua posição quanto à questão da guerra.
Em Portugal
Após a
Restauração da Independência (1640), em 1641 regressou a Lisboa iniciando uma
carreira diplomática, pois integrava a missão que ia ao Reino prestar
obediência ao novo monarca. Sobressaindo pela vivacidade de espírito e como
orador, conquistou a amizade e a confiança de João IV de Portugal, sendo por
ele nomeado embaixador e posteriormente pregador régio. Ainda como diplomata,
foi enviado em 1646 aos Países Baixos para negociar a devolução do Nordeste do
Brasil, e, no ano seguinte, à França. Caloroso adepto de obter para a Coroa a
ajuda financeira dos cristãos-novos, entrou em conflito com o Santo Ofício, mas
viu fundada a Companhia Geral do Comércio do Brasil.
No Brasil, outra
vez
Em Portugal, havia quem não
gostasse de suas pregações em favor dos judeus. Após tempos conturbados acabou
voltando ao Brasil, de 1652 a 1661, missionário no Maranhão e no Grão-Pará,
sempre defendendo a liberdade dos índios.
Diz o Padre
Serafim Leite em Novas Cartas Jesuíticas, Companhia Editora Nacional, São
Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de
formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no
centro e no sul», na «defesa dos índios e crítica de costumes".
"Manuel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos
representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e
clamavam!"
Naufrágio nos
Açores
Em 1654, pouco
depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em
São Luís, no estado do Maranhão, o padre António Vieira partiu para Lisboa,
junto com dois companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio,
carregado de açúcar. Tinha como missão defender junto ao monarca os direitos
dos indígenas escravizados, contra a cobiça dos colonos portugueses. Após cerca
de dois meses de viagem, já à vista da ilha do Corvo, a Oeste dos Açores,
abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade. Mesmo recolhidas as
velas, à exceção do traquete, correndo o navio à capa, uma rajada mais forte
arrancou esta vela, fazendo a embarcação adernar a estibordo. Em pleno mar
revolto, na iminência do naufrágio, o padre concedeu a todos absolvição geral,
bradando aos ventos:
"Anjos da guarda das almas do
Maranhão, lembrai-vos que vai este navio buscar o remédio e salvação delas.
Fazei agora o que podeis e deveis, não a nós, que o não merecemos, mas àquelas
tão desamparadas almas, que tendes a vosso cargo; olhai que aqui se perdem
connosco."
Após essa
exortação, obteve de todos a bordo um voto a Nossa Senhora de que lhe rezariam
um terço todos os dias, caso escapassem à morte iminente. Ainda por um quarto
de hora o navio permaneceu adernado até que os mastros se partiram. Com o peso
da carga, estivada até às escotilhas, o navio voltou à posição normal,
permanecendo à deriva, ao sabor dos elementos.
Nesse transe
uma outra embarcação foi avistada, mas sem que prestasse qualquer auxílio. Ao
cair da noite a mesma retornou, mas tratava-se de um corsário neerlandês que
recolheu os náufragos a bordo e pilhou a embarcação à deriva, que acabou por
ser afundada. Nove dias mais tarde, quarenta e um portugueses, despojados de
seus pertences pessoais, foram desembarcados na Graciosa, onde o padre António
Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou
providenciar-lhes roupas, calçado e dinheiro durante os dois meses que permaneceram
na ilha. Dali, também, creditou Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a
Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos
corsários, o que se acredita tenha sido cumprido uma vez que dispomos hoje de
cerca de duzentos sermões (este naufrágio é relatado no vigésimo-sexto) e cerca
de 500 cartas do religioso, muitas das quais anteriores ao naufrágio.
O grupo passou
em seguida à Ilha Terceira, onde Vieira obteve o aprestamento de uma embarcação
para que os seus companheiros de infortúnio pudessem seguir para Lisboa.
Instalado no Colégio dos Jesuítas em Angra, ele aqui permaneceu mais algum
tempo, tendo instituído a devoção do terço, que pela primeira vez foi cantado
na Ermida da Boa Nova. Entre os sermões que pregou em diversos locais da ilha,
destacou-se o que proferiu na Igreja da Sé, na Festa do Rosário, celebrada
anualmente a 7 de outubro, com aquele templo repleto.
Uma semana
mais tarde, Vieira passou à Ilha de São Miguel, onde proferiu o sermão de Santa
Teresa, um dos mais destacados de sua autoria. Dali partiu para Lisboa, a bordo
de um navio inglês, a 24 de outubro. Após atravessar nova tempestade, o
religioso chegou finalmente ao destino, em novembro de 1654.
Em Portugal, outra
vez
Em Portugal,
António Vieira tornou-se confessor da “regente”, D. Luísa de Gusmão que foi a
primeira rainha de Portugal da quarta dinastia. Com a ascensão ao trono de D.
Afonso VI, Vieira não encontrou apoio.
Abraçou a
profecia Sebastiana e por isso entrou em novo conflito com a Inquisição que o
acusou de heresia com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão na qual expunha
sua teoria do quinto império segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser
cabeça de um grande império do futuro.
Em Roma
Em Roma, ficou
6 anos, encontrou o Papa a beira da morte, mas deslumbrou a Cúria com seus
discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição,
cuja actuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa.
Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano.
A mesma extraordinária capacidade oratória que seduzira, primeiro, o governo
geral do Brasil, a corte de Dom João IV, e que depois, iria convencer o Papa e
garantir assim a anulação das suas penas e condenações.
Entre 1675 e
1681, a actividade da Inquisição esteve suspensa por determinação papal em
Portugal e no império, uma determinação que encontrou o seu maior fundamento nos
relatórios sobre os múltiplos abusos de poder que o jesuíta deixou em Roma, nas
mãos do Sumo Pontífice. Desta forma conseguia dois feitos raros e históricos,
por um lado conseguia parar pela primeira vez durante sete anos a actividade do
Santo Oficio em Portugal e, feito não menor, lograva escapulir da perigosa
malha que inquisidores derramavam sobre si.
Em Portugal
Regressou a
Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando, em 1671, uma nova expulsão
dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara
a protector do Santo Ofício e recebeu-o friamente. Em 1675, absolvido pela
Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos
negócios públicos.
No Brasil, pela
última vez
Decidiu voltar
outra vez para o Brasil, em 1681. Dedicou-se à tarefa de continuar a coligir os
seus escritos, visando à edição completa em 16 volumes dos seus Sermões,
iniciada em 1679, e à conclusão da Clavis Prophetarum. Possuía cerca de 500
Cartas que foram publicadas em 3 volumes. As suas obras começaram a ser
publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição.
Já velho e doente, teve que
espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta
correspondência. Em 1694, já não conseguia escrever pelo seu próprio punho. Em
10 de junho começou a agonia, perdeu a voz, silenciaram-se seus discursos.
Morre na Bahia a 18 de julho de 1697, com 89 anos.
Obra
Deixou uma
obra complexa que exprime as suas opiniões políticas, não sendo propriamente um
escritor, mas sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis Prophetarum,
livro de profecias que nunca concluiu. Entre os inúmeros sermões, alguns dos
mais célebres: o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o
"Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de
Portugal contra as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão”, “Sermão de
Santo António aos Peixes" entre outros.
Vieira deixou para trás cerca de
700 cartas e 200 sermões.
Lendas
Existem muitas
lendas sobre o padre António Vieira, incluindo a que afirma que, na juventude,
a sua genialidade lhe fora concedida por Nossa Senhora, e a que, uma vez, um
anjo lhe indicou o caminho de volta à escola quando estava perdido.
Obras
António Vieira escreveu mais de 200 sermões, 700 cartas,
além de tratados proféticos, relações etc. Seguem alguns de seus sermões:
Sermão da
Sexagésima
Sermão de
São José (1642) ligação externa
Maria Rosa
Mística
Sermão de
Santo António aos Peixes
Sermão de
Nossa Senhora do Rosário
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma
Sermão do Mandato
Sermão Segundo do Mandato
Sermão de Santa Catarina Virgem e Mártir
Sermão Histórico e Panegírico
Sermão da Glória de Maria, Mãe de Deus
Sermão da Primeira Dominga do Advento (1650)
Sermão da Primeira Dominga do Advento (1655)
Sermão de São Pedro
Sermão da Primeira Oitava de Páscoa
Sermão nas Exéquias de D. Maria de Ataíde
Sermão de São Roque
Sermão de Todos os Santos
Sermão de Santa Teresa e do Santíssimo
Sacramento
Sermão de Santa Teresa
Sermão da Primeira Sexta-feira da Quaresma
(1651)
Sermão da Primeira Sexta-feira da Quaresma
(1644)
Sermão de Santa Catarina (1663)
Sermão do Mandato (1643)
Sermão do Espirito Santo
Sermão de Nossa Senhora do Ó (1640)
Quarta parte, licenças e privilégio real
Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal
Contra as de Holanda
Sermão da Segunda Dominga da Quaresma (1651)
Maria Rosa Mística Excelências, Poderes e
Maravilhas do seu Rosário
Sermão das Cadeias de São Pedro em Roma pregado
na Igreja de S. Pedro. No qual sermão é obrigado, por estatuto, o pregador a
tratar da Providência, ano de 1674
Sermão do Bom Ladrão
Sermão da Dominga XIX depois do Pentecoste
(1639)
Sermão XII (1639)
Sermão XIII
Sermão de Dia de Ramos (1656)
Quarta Parte em Lisboa na Oficina de Miguel
Deslandes
Sermão do Quarto Sábado da Quaresma (1640)
Sermão XIV (1633)
Sermão Nossa Senhora do Rosário com o Santíssimo
Sacramento
Sermão XI Com o Santíssimo Sacramento Exposto
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma (1654)
Sermão nas Exéquias de D. Maria da Ataíde (1649)
Sermão de São Roque (1652)
Sermão Segundo do Mandato (II)
Sermão do Mandato (1655)
Sermão da Epifania (1662)
Sermão da primeira Oitava da Páscoa (1656)
História do Futuro
Esperanças de Portugal
Defesa do livro intitulado Quinto Império
Cronologia
1608 – Nasce a 6 de fevereiro em Lisboa, na
freguesia da Sé, António Vieira, filho primogénito de Cristóvão Vieira Ravasco
e de Maria de Azevedo.
1614 – Desembarca com a família em Salvador
da Bahia, onde frequentará as aulas do Colégio dos Jesuítas.
1624 - Em Maio, as forças holandesas ocupam
a cidade do Salvador.
1626 – Com 18 anos de idade, o noviço
António Vieira é encarregue de redigir a Carta Annua ao Geral dos Jesuítas,
relatório anual da Companhia de Jesus no Brasil. Constitui o seu primeiro
escrito.
1627 – Transfere-se para o Colégio dos
Jesuítas de Olinda, onde passa a ministrar aulas de Retórica.
1633 – Prega o primeiro sermão público, na
Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador.
1634 – É ordenado sacerdote, a 10 de
dezembro, celebrando a 13 do mesmo mês a sua primeira missa.
1638 – É nomeado Lente em Teologia.
1640 – Prega o "Sermão pelo Bom
Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda", na Igreja de Nossa
Senhora da Ajuda, em Salvador.
1641 – Vieira viaja para Lisboa, onde
residirá até 1646.
1642–1644 – Prega pela primeira vez na
Capela Real, em Lisboa, o "Sermão dos Bons Anos". Em atenção ao
brilhantismo das suas prédicas recebe, em 1644, o título de Pregador de Sua
Majestade e alguns dos seus sermões são publicados separadamente. É, igualmente,
nomeado Tribuno da Restauração.
1645 – Prega o "Sermão do
Mandato", na Capela Real, em Lisboa.
1646– 1652 – Profissão solene na
Igreja de São Roque, em Lisboa. Pregador e conselheiro de D. João IV, é por
este enviado como embaixador em diversas missões diplomáticas aos Países Baixos
e à França, negociando Pernambuco, a paz europeia, o financiamento da guerra
contra Castela e a futura Companhia Geral do Comércio do Brasil. É o período de
grande actividade diplomática e política de Vieira, que se desloca por grande
parte da Europa, representando e defendendo os interesses portugueses. Faz,
ainda, parte da embaixada portuguesa nas negociações da Paz de Münster, cujo
objectivo era pôr fim à Guerra dos Trinta Anos. Em Ruão e Amsterdão encontra-se
e negoceia com representantes da comunidade judaica portuguesa aí refugiada, o
que lhe valeria, desde então, a hostilidade do Santo Ofício.
1652 – Em novembro parte de volta para a
América Portuguesa, a fim de se dedicar às missões junto dos indígenas do
estado do Maranhão, dos quais assumirá corajosamente a defesa, contra os
interesses esclavagistas dos colonos.
1654 – Prega o "Sermão de Santo
António aos Peixes", na véspera de embarcar para Lisboa, onde, em breve
visita, pedirá providências favoráveis aos índios e às missões jesuítas no
estado do Maranhão.
1655 – Antes de retornar às missões do
Estado do Maranhão, em Abril, prega na Capela Real, em Lisboa, durante a
Quaresma: abre com o "Sermão da Sexagésima" e fecha com o
"Sermão do Bom Ladrão".
1657 – Prega o "Sermão do Espírito
Santo", no Maranhão.
1659 – Visita cinco aldeias da etnia
Nheengaíba. No regresso a Belém do Pará, encontrando-se doente em Cametá,
redige o seu primeiro tratado futurológico "Esperanças de Portugal, V
Império do Mundo".
1661
– Em resultado do seu combate à escravidão dos índios, Vieira e os seus
companheiros jesuítas são expulsos do Estado do Maranhão e embarcados para
Lisboa.
1662 – Prega o importante "Sermão da
Epifania" diante da rainha-regente.
1663– 1667 – É desterrado para Coimbra e
começam os interrogatórios da Inquisição, que o persegue devido às suas ideias
milenaristas e messiânicas inspiradas no profetismo de António Gonçalves Annes
Bandarra ("Quinto Império") e, também, por causa das suas alegadas simpatias
pela "gente da nação", os judeus. Em 1666, a Inquisição ordena que
seja retirado da cela de religioso, a que estava confinado, e colocado em
cárcere de custódia. Apesar de praticamente desprovido de livros para
consultas, redige duas Representações da Defesa e, em segredo, parte do livro
"História do Futuro" e da "Apologia". Em 1667 é proferida a
sentença: "… seja privado para sempre da voz activa e passiva e do poder
de pregar…"
1668 – É amnistiado a 12 de junho.
1669 – Prega o "Sermão do Cego",
na Capela Real, em Lisboa. Parte para Roma em busca de revisão da sua sentença,
onde permanece seis anos, pregando, em italiano, aos cardeais da Cúria romana e
à exilada rainha Cristina da Suécia.
1675 – Regressa a Lisboa munido de um Breve
do Papa Clemente X, isentando-o "por toda a vida de qualquer jurisdição,
poder e autoridade dos inquisidores presentes e futuros de Portugal", mas
permanecendo sujeito à autoridade da Cúria romana.
1679 – Declina o convite da rainha Cristina
da Suécia para ser seu confessor.
1681 – Regressa à América Portuguesa, a
Salvador, na Bahia, em Janeiro, e passa a residir na Quinta do Tanque, casa de
campo do Colégio dos Jesuítas, onde prepara a publicação dos seus Sermões e
redige a "Clavis Prophetarum".
1686 – Vieira é um dos poucos a não ser
afectado pela epidemia de "mal da bicha" (febre amarela). Devido a
essa calamidade, a Câmara de Salvador faz votos a São Francisco Xavier,
proclamando-o Padroeiro da Cidade do Salvador, em 10 de maio.
1688 – É nomeado Visitador-Geral da
Província do Brasil (até 1691).
1690 – Promove a Missão entre os índios
Cariri da Bahia, financiando-a com o lucro da venda dos seus livros.
1694 – Emite parecer a favor da liberdade
dos índios, contra as administrações particulares na Capitania de São Paulo.
1695 – Envia carta-circular de despedida à
nobreza de Portugal e amigos, por não poder escrever a todos.
1696 – É transferido da Quinta do Tanque
para o Colégio dos Jesuítas, no Terreiro de Jesus.
1697 – Termina a revisão do tomo XII dos
Sermões; dita a sua última carta ao Geral da Companhia de Jesus, Tirso
Gonzalez, a 12 de julho. Falece a 18 de julho, no Colégio, aos 89 anos. Os
ofícios fúnebres realizam-se na Igreja da Sé, oficiados pelos Cónegos. É
sepultado na Igreja do Colégio.
Sites:
Ø
http://www.companhiadasletras.com.br/trechos/12824.pdf
Ø
Sermões:
http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/sermoes-401724.shtml
Bibliografia:
·
José Pedro Paiva. Padre Antonio Vieira,
1608-1697: bibliografia, Biblioteca Nacional, Lisboa 1999 ISBN 972-565-268-1
·
João Lúcio de Azevedo. História de Antônio
Vieira. São Paulo: Alameda, 2008, 2v.
·
José Van Den Besselaar. António Vieira: o homem,
a obra, as ideias. Lisboa: ICALP, 1981 (Colecção Biblioteca Breve - Volume 58)
·
Thomas Cohen. The fire of tongues. Stanford, EUA: Stanford University
Press, 1998.
·
Margarida Vieira Mendes. A oratória barroca de
Vieira. 2ª ed., Lisboa: Caminho, 2003.
·
Alcir Pecora. Teatro do sacramento. 2ª ed., São
Paulo/Campinas: Edusp/Ed. Unicamp, 2008.
·
Revista Semear. Revista da Cátedra Padre António
Vieira de Estudos Portugueses , n. 2, 1998.
Ligações externas:
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§
Sermões do Padre Vieira (primeira edição) na
Brasiliana Digital da USP
§
Cartas do Padre Vieira na Brasiliana Digital da
USP
§
Sermões (vol I), org. Alcir Pécora , (vol. II)
§
Cartas do Brasil (org. João Adolfo Hansen)
§
Comemorações dos 400 anos do nascimento de
Vieira (portal da Universidade de Aveiro)
§
Biografia do Padre António Vieira
§
Biografia do Pe. António Vieira, no site
Patrimônios de São Luís
§
Lista de Sermões
No Brasil, outra
vez
Em Portugal, havia quem não
gostasse de suas pregações em favor dos judeus. Após tempos conturbados acabou
voltando ao Brasil, de 1652 a 1661, missionário no Maranhão e no Grão-Pará,
sempre defendendo a liberdade dos índios.
Diz o Padre
Serafim Leite em Novas Cartas Jesuíticas, Companhia Editora Nacional, São
Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de
formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no
centro e no sul», na «defesa dos índios e crítica de costumes".
"Manuel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos
representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e
clamavam!"
Naufrágio nos
Açores
Em 1654, pouco
depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em
São Luís, no estado do Maranhão, o padre António Vieira partiu para Lisboa,
junto com dois companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio,
carregado de açúcar. Tinha como missão defender junto ao monarca os direitos
dos indígenas escravizados, contra a cobiça dos colonos portugueses. Após cerca
de dois meses de viagem, já à vista da ilha do Corvo, a Oeste dos Açores,
abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade. Mesmo recolhidas as
velas, à exceção do traquete, correndo o navio à capa, uma rajada mais forte
arrancou esta vela, fazendo a embarcação adernar a estibordo. Em pleno mar
revolto, na iminência do naufrágio, o padre concedeu a todos absolvição geral,
bradando aos ventos:
"Anjos da guarda das almas do
Maranhão, lembrai-vos que vai este navio buscar o remédio e salvação delas.
Fazei agora o que podeis e deveis, não a nós, que o não merecemos, mas àquelas
tão desamparadas almas, que tendes a vosso cargo; olhai que aqui se perdem
connosco."
Após essa
exortação, obteve de todos a bordo um voto a Nossa Senhora de que lhe rezariam
um terço todos os dias, caso escapassem à morte iminente. Ainda por um quarto
de hora o navio permaneceu adernado até que os mastros se partiram. Com o peso
da carga, estivada até às escotilhas, o navio voltou à posição normal,
permanecendo à deriva, ao sabor dos elementos.
Nesse transe
uma outra embarcação foi avistada, mas sem que prestasse qualquer auxílio. Ao
cair da noite a mesma retornou, mas tratava-se de um corsário neerlandês que
recolheu os náufragos a bordo e pilhou a embarcação à deriva, que acabou por
ser afundada. Nove dias mais tarde, quarenta e um portugueses, despojados de
seus pertences pessoais, foram desembarcados na Graciosa, onde o padre António
Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou
providenciar-lhes roupas, calçado e dinheiro durante os dois meses que permaneceram
na ilha. Dali, também, creditou Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a
Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos
corsários, o que se acredita tenha sido cumprido uma vez que dispomos hoje de
cerca de duzentos sermões (este naufrágio é relatado no vigésimo-sexto) e cerca
de 500 cartas do religioso, muitas das quais anteriores ao naufrágio.
O grupo passou
em seguida à Ilha Terceira, onde Vieira obteve o aprestamento de uma embarcação
para que os seus companheiros de infortúnio pudessem seguir para Lisboa.
Instalado no Colégio dos Jesuítas em Angra, ele aqui permaneceu mais algum
tempo, tendo instituído a devoção do terço, que pela primeira vez foi cantado
na Ermida da Boa Nova. Entre os sermões que pregou em diversos locais da ilha,
destacou-se o que proferiu na Igreja da Sé, na Festa do Rosário, celebrada
anualmente a 7 de outubro, com aquele templo repleto.
Uma semana
mais tarde, Vieira passou à Ilha de São Miguel, onde proferiu o sermão de Santa
Teresa, um dos mais destacados de sua autoria. Dali partiu para Lisboa, a bordo
de um navio inglês, a 24 de outubro. Após atravessar nova tempestade, o
religioso chegou finalmente ao destino, em novembro de 1654.
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